todo dia traz uma promessa, todo dia é igual, todo dia é diferente.
Os dias passam e a gente repete: passou rápido.
Mas sentados na cadeira a gente olha pro relógio, rola a tela e perde a noção do que estamos perdendo.
O diário é uma página, são suas palavras, é o cotidiano que pode se tornar o mais banal, sintoma de vazio que conhecemos.
Mas o diário pode vir a ser o lugar mais mágico, interessante de se estar. E de onde tudo vem.
Estar de bem com seu diário é estar de bem com a vida, com os dias, com o mais legal ou com o pior que te ocorreu.
Eu tive a sorte de receber logo quando criança um diário da minha mãe, o diário sem nenhum desenho que eu conhecia ou gostava, um diário pequeno e fino, de capa plastificada e um cadeado. Sim, até as crianças tem segredos e eu pude descobrir os meus, desabafar, fazer as pazes com meus dias desde cedo.
Eu acho que essa hábito da escrita sem compromisso é o que mais me tornou a mente e pessoa que eu sou hoje, é o que orquestra meus pensamentos, minha forma de ver o mundo e elaborar em cima do que me aconteceu. Um lugar para ser só eu, egoísta, narcissista e começar toda frase com eu e conjugar todos os verbos na primeira pessoa.
Mas teve fases que eu percebi o meu diário virando uma lista de tarefas, um relatorio formal que poderia ser entregue a qualquer chefe da empresa da minha vida. Bater ponto.
já abandonei o diário.
Já fiz diário poético, sem tentar fazer sentido, jogando rascunhos e pedaços de frases que eu e somente eu entenderia.
Já fiz diário com fotos, com colagens, com mais de três paginas ou com menos de 3 linhas.
Voltar ao meu diário se tornou algo que no momento não me cobro. Depois de seguir algumas dicas, embarcar em trends e desafios que foram excelentes experimentos, eu decidi que não preciso escrever de tal modo, ou quantidade, ou frequências. Só precisava ter um arquivos da aline do passado. documentar ela, tentar entender ela.
Sem querer eu me esbarro com diários antigos na minha casa, mudei recentemente minha estante para trás do sofá. Isso quer dizer que se eu cansar de olhar pra frente, pra tv, pro celular, pra parede, vendo videos, filmes e séries. Eu posso olhar pra trás, olhar pra mim mesma. E pegar um tricô, um livro, um diário de 2019. Ou de 2007.
É escrevendo no diário que eu percebo o quanto eu guardo só pra mim, o quanto eu mesma escondo de mim, várias vergonhas e culpas por minhas próprias emoções e pensamentos.
Hoje em dia no youtube em muito comum ver varias séries que se tornaram trends chamadas “diaries” assim que vi uma eu decidi começar. Acho que nunca antes entrei em nenhuma trend, mas simplesmente fez sentido para mim
aquela palavrinha traduziu o que eu queria com o meu conteudo de alguma forma, e devo dizer que me salvou e me ajudou a continuar criando, me expressando, seja onde for
como rick rubin diz no seu livro, um artista é sempre único e o maravilhoso do diário é que ele nos lembra disso.
De que nada que eu fizer, dizer, produzir está certo ou errado, nada deve ser feito desse ou daquele jeito. É apenas a minha perspectiva, minha opinião, meu ponto de vista daqui, como isso me impacta
de repente eu me lembrei que eu tenho essa permissão, de ter meus olhos, meu corpo, de sentir diferente, de ser diferente, de pensar algo que só meus neurônios conseguiram conectar e de criar coisas, como a femingos diz, que só eu posso criar!
eu costumava ler crônicas na escola, jornais ainda existiam em 2012 e eu lia livros ou artigos de crônicas com prazer. Tem algo na crônica formal, uma nostalgia pessoal, mais do que um podcast, áudio longo ou newsletter.
Tem algo na crônica que fabula com a vida, com o banal, com o cotidiano.
Eu sou apaixonada por crônicas, de clarice lispector, rubem braga, carlos drummond, cecilia meireles, e um que li muito na escola, luiz fernando veríssimo
há algo no poder da crônica que é o mesmo poder do diário, mostrar o externo depois dele ter passado por você
o diário termina ali
a crônica continua, enfeita, apresenta e segue adiante
será que eu conseguiria ser uma cronista no mundo de hoje? será que apesar de toda minha sensibilidade eu consiga traduzir um evento externo pro mundo do meu jeito?
ficou claro depois de me ler, me ver e me ouvir esses anos todos, EU AXO que é isso que eu tenho tentado fazer.